segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vencidos


O último fim de semana carioca justificou a vocação que a cidade tem para movimentar o noticiário policial. Entre mortos e feridos, é injusto destacar a maior perda, afinal, foram-se dezenove vidas. Cada uma delas com lastro, história, família, missão e amores. Tudo bruscamente interrompido pelo caos social em que mergulhamos, desde os tempos em que a elite optou por “esquecer” da existência dos pobres. Agora, todos –miseráveis, pobres, remediados e ricos – colhemos os frutos dessa omissão: a violência urbana.
Entre policiais em serviços, criminosos e inocentes, me chamou a atenção, especialmente, o assassinato do coordenador da ONG AfroReggae, Evandro João Silva. Militante das causas sociais, há nove anos, através da instituição, Evandro era um sobrevivente das guerras do tráfico, mediador de conflitos, que conseguiu trilhar um caminho pessoal digno e honroso, mas não escapou do “golpe menor”, de um assalto estúpido,que lhe tirou a vida.
Diante da explosão sangrenta de sábado, quando marginais derrubaram um helicóptero da polícia e detonaram uma onda de violência e pânico por vários bairros da cidade, Evandro sentiu-se acuado e não atravessou a cidade para jantar com familiares. Ironicamente, foi morto perto de casa.
O episódio encerra a vida de um futuro pedagogo e mais ainda a luta de um jovem consciente e engajado. É finda a trajetória de alguém que optou pela negociação pacífica, pela edificação social através da arte e da educação. Por isso, a morte de Evandro –entre todas – é simbólica e deve ser lembrada com marco entre tantas baixas de uma guerra urbana, que já rende bem uns trinta anos...
O sentimento carioca pode ser traduzido pela dor do menino que estampa a capa do jornal “O Globo” de hoje. O garoto, atendido pela ONG, chora enquanto toca violino durante a homenagem póstuma ao coordenador do grupo.

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