domingo, 21 de dezembro de 2008

Quem vive, vê

Algumas vezes, perder o rumo é manter a dúvida. Outras vezes, no entanto, viver no desencontro é ser filho da cautela, da insegurança, do medo...
Medo de fazer a escolha errada, medo de não ser forte o bastante e dos piores: o medo de não se perdoar diante da possibilidade de sofrer novamente. Esse kit completo atravanca e desmotiva porque cria um bicho de sete cabeças diante de “meras” possibilidades.
Os mais cautelosos podem dizer que os riscos são motivos suficientes para optar pelo caminho da segurança, onde não há incertezas e prejuízos. Mas, tudo o que é previsível cansa. Enquadrar a vida toda numa forma só, é desrespeitar as mudanças que sofremos, é ignorar que nós mudamos e nossos desejos também. Procurar a felicidade numa linha reta é esquecer das voltas que o mundo dá.
Quando concluo que não tem jeito e preciso partir para o tudo ou nada, só “ouço” uma frase que se eternizou na memória:“Quem vive, vê”. Literalmente, ela dispensa explicações e faz oposição declarada ao famoso “Quem viver, verá” porque elimina a incidência do acaso sobre o destino e mostra que os que se lançam à vida, enxergam, antevêem e decidem o que farão de seus caminhos, quais serão suas escolhas – independente dos riscos que as acompanhem....


Onde há medo,
não há confiança,
não há entrega,
não há segurança,
não há integração,
não há amor.
Mas, quando o amor vence o medo, acontece:
A entrega,
O elo,
A lealdade,
O romance,
A plenitude,
A felicidade, enfim.

Não acredito em Papai Noel, mas peço aos céus, à Mãe Natureza, às forças ocultas e a todos os poderosos anônimos e entidades do além que me dêem forças para vencer meus medos, parar correr o risco de ser feliz (ou ao menos tentar) seja lá como for.

PS: Desejo a mesma dose de coragem para você, leitor
. Feliz Natal!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Onde?

Nos últimos dias, sem qualquer motivo concreto, interrompi várias noites de sono, fiquei entediada por muitos momentos, tive pesadelos, fiz faxinas, lavei louças e roupas desesperadamente. Acho que, inconscientemente, limpar tudo que via pela frente representava alguma esperança de me livrar de subterfúgios inúteis. Exorcizar todas as coisas de importância nula, que buscamos para preencher nossas lacunas.
As tentativas de “substituição” são muitas. Todo o seu “fantástico mundo” entra na lista. A arrumação da casa, o livro cuja leitura ainda estava pendente, a conversa com uma amiga, um jantar com as meninas da Confraria do Garfo, uma conversa ao telefone, tudo o que é habitual ganha um peso muito além do merecido...
Quando o disparate fica claro e as “atividades” se esgotam, sobram dúvidas e interrogações. Cresce a sensação de estar desnorteada, vazia e sem rumo. E tudo o que fez ou faz na vida perde o sentido. Escolhas antigas e recentes, objetivos, metas e sonhos perdem, repentinamente, a importância. Porque, afinal, se descobre que tudo o que a humanidade inventou – as coisas que “dignificam” a existência, as parcerias, as relações, os “sonhos de consumo”, as coisas que agregam “status social”, tudo enfim, não passa de um esforço desesperado para aplacar nossas pulsões, nossos desejos e, sobretudo, nosso estado de insatisfação diante da vida.
Acho pretensioso imaginar que há algum sentido real nessa aventura errante de existir, mas vejo – com clareza – que nossos desejos e angústias são fugas de nós mesmos. Porque não há nada mais pleno que as respostas que moram em cada singular coração. Nenhuma “comproterapia” substitui a sensação de perceber que certas buscas frenéticas devem obedecer outro vetor...
A felicidade não está no carro que a indústria quer que eu compre, no vestido que custa uma fábula, no bilhete premiado, em qualquer tipo de relacionamento ou nos “demais”. O bem – estar, a famosa “paz”, se esconde numa filigrana da própria alma e eu vou tentar encontrá-la.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Visita

Gelatina, cafeína, cozinha,
Conversa sem pressa, remessa
Papo pro ar...

Qualquer notícia, e-mail, mensagem
Nada consegue apagar
As pistas de que você esteve por lá

Porque são impressões sutis
e ao mesmo tempo marcantes,
de uma visita furtiva e delirante
que não queria acabar...

sábado, 8 de novembro de 2008

Tempo

O que é o tempo?
Não é o devir das horas,
nem o prazo findo,
nem tampouco a alvorada do dia.

É a estrada que nunca se encerra,
Nem encontra sua paralela,
Mas que vive em transformação.

É a busca pela própria alma,
É encontrar a calma
E se livrar da angústia do perto – longe de nós mesmos

O tempo é caminhar
Para a morte– vida – nascimento
Achar a própria essência
E fazer de si obra em eterna construção

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Samba de uma nota só

Eleições municipais teceram meus últimos e espaçados comentários por aqui. Quero arejar esse “samba de uma nota só” com um post pretensioso por duas razões: é auto- referente e tem ambição poética... Mesmo com a terrível e dupla vaidade que inspirou sua criação,recomendo a leitura. Ainda mais se for lunático(a) como eu.

Intervalo

Se a razão fosse meu aporte,
Não pesaria a dor desse intervalo
Seu cheiro no meu braço
e esse ar que respiro agora

Se a razão fosse o meu norte,
Seria vã minha aflição
Seria inútil a amplidão desse arroubo
Não seria enfim...

Se a razão fosse o meu chão,
Não seria tão grande a vontade de lhe ouvir e ver...
Não sentiria infinito o desejo de me perder...
Para me achar

Não estaria entregue à angústia desse intervalo,
E nem daria um grito de renúncia
Não fugiria desse instante, nem abandonaria meu melhor momento

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E tudo se repete

Sentidos recobrados, "ressaca" finda e rotina realinhada, volto aqui para lamentar a continuidade com o continuísmo e mais um ciclo de inverdades, promessas quebradas e frustrações para o Rio de Janeiro.
Quando meu "saco" permitir, falarei mais amiúde sobre o episódio de "medo do novo” e uso da máquina pública em favor de um candidato/testa - de - ferro, que mais representa os interesses de muitos (oportunistas) do que, propriamente, daqueles que querem mudança.
Enfim, cada povo tem o governo que merece!C´est la vie...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Na urgência das horas

Muitos dizem que um dia perfeito é conseqüência de uma noite feliz...Tenho que concordar e, depois da goleada do Flamengo, só corroboro a tese!
Que show foi aquele?!Cinco gols deliciosos se aliaram a São Pedro, que desenhou uma alvorada mágica e deu aos cariocas um dia à altura da cidade, maravilhoso.
Ter céu claro, sol aberto e brando, só pode ser um bom pressagio do que será a decisão política, que se aproxima na urgência das próximas horas.
Os cariocas terão: um debate entre Fernando Gabeira e Eduardo Paes, menos de dois dias antes do momento da votação e, finalmente, o instante de conhecer o futuro prefeito do Rio de Janeiro.
Horas emocionantes nos esperam e quatro anos podem representar muito para a cidade – vitrine do Brasil. Ou escolhemos Fernando Gabeira, exemplo de coerência e iniciativas corajosas, ou repetimos o formato “pluft – plaft – zum – você não vai a lugar nenhum”, que conhecemos bem...
Além disso, o que mais me apavora diante da possibilidade de ter Eduardo Paes como prefeito, é pensar que às vésperas de um pleito decisivo, até as filhas de seu adversário passaram a ser misteriosamente perseguidas.Com isso, faço a seguinte projeção: imagina se o camarada chega ao poder?!
Salvem – se na onda verde!!!!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"O Brasil ficou um pouco mais moderno"

Se Gabeira ganhar, será a prova de que o brasileiro cansou de ficar se lamentando em um balcão de bar, repetindo a ladainha de que político é tudo igual.
Se Gabeira ganhar, saberemos que existe uma parcela da população que não tem medo de quem possui uma mentalidade aberta e está apostando em quem tem experiência, não só política, mas de vida.
Se Gabeira ganhar, vai ser a recompensa merecida por ele ter peitado Severino Cavalcanti, dando nele um cala – boca que todos nós gostaríamos de ter dado na ocasião do mensalinho.
Se Gabeira ganhar, não será apenas o deputado federal que assumirá o cargo, mas também o escritor e jornalista que tantas vezes defendeu os direitos humanos, as formas alternativas de convívio social e que tem uma consciência ecológica que vem de muito antes disso virar moda.
Fernando Gabeira, pela projeção que tem e pela cidade problemática que pretende governar, é o fato político do ano eleitoral de 2008. É interesse de todos nós que a política brasileira experimente, para variar, dar espaço para alguém com um perfil mais ético, corajoso e cosmopolita. Se ele será um bom prefeito, caso eleito?Ninguém sabe. Mas, ter vencido a desconfiança da sua biografia incomum já é motivo para comemorarmos.
Ao dar crédito para Gabeira, o Brasil ficou um pouco mais moderno.

*Martha Medeiros, em artigo
publicado na Revista O Globo, em 19/10

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Para uma onda verde

Que tal uma idéia simples, silenciosa e influenciadora? !
Nos dia 25 e 26 de outubro próximos, todos os simpatizantes e eleitores do Gabeira, vestirmos uma peça de roupa da cor verde, parasilenciosamente mostrarmos a nossa preferência política, e influenciarmos os indecisos?Por favor, caso você também seja Gabeira no segundo turno, circule esta idéia entre as pessoas de seu relacionamento.
Criemos uma Onda Verde!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

*Por que votar no Gabeira?

Você anda na rua e todos dizem: 'É, o Gabeira é honesto'. Muitos dizem que não vão votar nele, mas todos são unânimes no quesito honestidade do Gabeira. Só isso já seria tudo para darmos nosso voto para o Gabeira.
Vai reformular o sistema de transporte com base no modelo de Curitiba, que dispensa comentário. Além disso: metrô, bicicleta e relicitação das malditas linhas de ônibus.
É o único candidato que assina em seu programa o compromisso de não lotear cargos da prefeitura com indicações políticas. Está no programa de governo. Nenhum outro fez isso.
Único candidato que se comprometeu a não poluir a cidade com cartazes, e não poluiu. Pagou um preço por isso - a publicidade é tudo nesse jogo. Mais uma comprovação da coerência entre o discurso e a prática do Gabeira.
Prometeu não falar mal dos seus adversários e não falou.
Suas propostas na área de saúde foram escolhidas como as melhores por especialistas da área médica, segundo pesquisa do jornal O Globo.
Único candidato que aborda o problema da segurança desde o centro de poder. Ele falou que uma parte da câmara de vereadores, na verdade, é de matadores. Quem mais teve esse peito?
Gabeira fala de desfavelização - assunto impopular e em que nenhum candidato ousa tocar, sob pena de perder curral eleitoral. Gente boa que mora na favela não quer morar lá.
Como é de costume, é o único candidato que, se afastando do discurso demagogo, assume o compromisso de trazer a iniciativa privada para fazer parcerias com a prefeitura. Gabeira é lúcido, soube atualizar-se ideologicamente. A prefeitura sozinha não movimenta as reformas profundíssimas de que o Rio precisa. E as empresas precisam fazer sua parte também. Em São Paulo isso já acontece. Parceria e zero hipocrisia.
Gabeira tem um histórico de ação, de combate e coragem. Educadamente, lutou contra o regime militar, educadamente foi metralhado e preso. Liderou o movimento que derrubou o deputado Severino Cavalcanti, quando fez, educadamente, discursos incríveis. E, importantíssimo: é o único político que toca no PMDB, esse monstro imenso, origem de quase toda merda que a gente atura na política brasileira.
Veja Gabeira x Severino: http://www.youtube.com/watch?v=cy-OJIUFM8I
Gabeira é o homem que representa o que o Rio deve dizer que quer agora: dignidade. Ele tem a ver com um futuro bacana que os cariocas não podem jogar fora. Tudo a ver com a coragem de enfrentar os corruptos do Planalto - no legislativo e no executivo.
Por isso, no dia 26 de Outubro, é: GABEIRA 43

*Autor desconhecido...Publiquei esse conteúdo por aqui porque, nem preciso dizer, concordo em gênero, número e grau!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Luís Fernando Veríssimo - Ele é o cara...

Hoje deixo por conta do jornalista e escritor:

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.Então, a rã pulou para o seu colo e disse: -Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: -Nem fo...den...do!
(Luís Fernando Veríssimo)

sábado, 13 de setembro de 2008

Toda certeza é burra

Este ano resolvi não comemorar meu aniversário pois entendi que promover festas , reuniões, comilanças e mobilizar a família e amigos em torno disso era um sinal de vaidade infantil...Durante os meses que antecediam a data, conversei com a minha família – sobretudo com minha mãe, tentando revertê-la de fazer qualquer comemoração. Meus argumentos se dedicavam a convencê-la de que não havia qualquer sentido em chamar fulano e beltrano para um almoço por conta da data, pois eu não via razões para comemorar... Vale lembrar que minha decisão não tinha relação com qualquer tristeza. Eu, simplesmente, estava convicta de que comemorar aniversário refletia, na verdade, uma necessidade de sentir paparicado e ser insensado, portanto, uma vaidade infantil da qual eu havia me livrado.
No entanto, algumas pessoas me deram argumentos muito práticos no sentido contrário. O primeiro deles dava conta da importância quase fenomenal de escaparmos ilesos ao cotidiano de guerra das grandes cidades. Portanto, cada ano de vida representa uma vitória de resistência contra a violência urbana. De fato, para quem vive em uma cidade como o Rio de Janeiro, isso é incontestável... Além disso, comemorações de aniversário são mais um pretexto para reunir amigos e parentes queridos que vemos pouco ou muito, mas que independente de qualquer coisa, amamos. Por fim, lembrei que a ocasião do aniversário é um momento perfeito para mergulhar na esbórnia. Tem coisa melhor?!
Nem preciso dizer que a minha consciência de desapego foi para o inferno... O que aconteceu foi o inverso do programado e bem antes do bendito aniversário lá estava eu arquitetando planos e criando mil situações para enfiar o pé na jaca. No fim das contas as comemorações começaram um dia antes e renderam por quase duas semanas... Comemorei entre familiares, sócias, amigas, colegas, assessorados. Fiz reunião em casa, em restaurante, no samba, na noitada e todas as circunstâncias possíveis.
Depois da overdose, o que ficou foram os quilos a mais (comi horrores), as lembranças dos momentos divertidos, os gestos de carinho, os presentes e sobretudo a clareza de que toda a “certeza” é frágil. Tudo o que é categórico esconde uma vulnerabilidade essencial, como se na verdade fosse forte porque é fraco, contundente porque é vazio, pesado porque é leve e intenso por ser rarefeito.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Olhar para fora

Apaixonada pelas coisas simples - e indispensáveis da vida - sigo num encantamento sem fim pelo vento, sol, ondas do mar e pela a malha verde da vegetação carioca.
Suspiro apaixonada pelo que vejo da janela do ônibus, a cada manhã. Amo mais e mais: o Aterro, a Enseada, a Marina, a Praça Paris (!), o Passeio Público, a Cinelândia...
Faço da carioquice da Lapa meu alimento espiritual e sorvo o ar que vem das ladeiras. Poderia viver feliz sem ter pisado em estonteantes cidades mediterrâneas, mas não sou capaz de sobreviver sem ouvir os acordes feitos na liberdade democrática do Samba da Ladeira!O ar fica rarefeito se dispenso a Babilônia dos Arcos e a batucada misturada que vem dali...
E, de tudo que a Lapa me ensina, destaco as lições cosmopolitas que desfizeram a máxima "Narciso acha feio o que não é espelho".
Viver o Rio não é, simplesmente, morar na cidade, mas assimilar as filigranas e peculiaridades de um lugar maravilhoso porque acolhe o novo. É entender que esse mosaico só se mostra para quem deixa os preconceitos de lado quando olha para fora, para o outro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O dever e o prazer de todo dia

Se a maior angústia humana é entender ou encontrar o sentido da vida, agradeço a Manoel Carlos por ter me dado as coordenadas...Em recente artigo assinado pelo autor, a tese simplista, porém certeira, de que a arte, o exercício criativo e o trabalho são as causas que justificam a existência foi corroborada. Para defendê-la, o amante do Leblon usou exemplos de artistas – expoentes, que viveram em função da arte. Um deles foi Cândido Portinari. Por conta dos efeitos nocivos do chumbo que havia em algumas tintas, Portinari foi proibido de pintar para preservar a saúde, já fragilizada pelo tempo e doenças. O veto, em si, foi a sentença de morte mais contundente que a própria doença. Afinal, sua força vital estava na arte, no exercício de criar. Sendo assim, Portinari retomou suas obras, para retomar a própria vida, ou melhor, o único modelo de vida que considerava legítimo.
Longe da grandeza artística, histórica e cultural de Portinari e perto da vida anônima que segue, transporto o exemplo para o nosso plano e comemoro a lembrança de pessoas realizadas com o que fazem. Essas, de fato, parecem entusiasmadas quando falam de trabalho, vivem criando novidades e ficam saturadas de férias longas...Afinal, para que o tanto ócio quando o dever é um prazer?

quinta-feira, 31 de julho de 2008

A volta dos que não foram

Depois de mais de um mês de luto e distância, retomo a dinâmica do “Bate e rebate”, espaço de descarrego, reflexão e troca coletiva. No hiato que me afastou daqui, andei perdida em meus pensamentos e problemas mesquinhos...Chega de introspecção!!Preciso arejar a vida. Para isso, nada mais motivador que sopro da amizade. Foi ela que deu o pontapé inicial para o nascimento do blog. Nada mais justo, então, que fazê-lo renascer desse sentimento. Para isso, segue um poeminha – presente para Cynthia Pacca, amiga que comemora aniversário (05/08) e brinda a existência nesse início de Agosto.

Encontro

Na malha despojada do seu desembaraço
Vi ternura,
Regra,
e espaço

Traço de fragilidade escondida,
identidade perdida
Lisura fina,
retidão

Você tem honra, brio, caráter e boa intenção
E um infinito mar de amor:
Amabilidade; amizade; compaixão

Alterna gentileza e presteza
Na arte de cativar quem lhe cerca e lhe apetece
É presente,
atenta e
autêntica

Alegre até na tristeza
Quando a vive sem embaraço
E faz da dor um caminho
Uma ponte, um transporte, um atalho

Afinal, estar em si, sem dó
Quase sempre não é fácil...



terça-feira, 24 de junho de 2008

24 de Junho

Preciso conjugar morte, vida e vitória
para acompanhar as nuances desse dia.
Preciso de Paco de Lucia, de Bulerias...


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Afeto

Quero abraços e beijos roubados
Quero cochichar segredos
E quero ombros largos para dormir de conchinha no frio

Quero acordar devagarinho
Para espiar o sono de menino
Ronronar amabilidades em seu ouvido
E ( por que não?) lhe dizer coisas de arrepiar cada folículo

Quero sentir pele macia e relevos
Mas também quero tê-lo como
Um companheiro
Como quem tem a seu travesseiro

Quero poder vê-lo a qualquer tempo
Pelo luxo de dar e receber afeto
Sem rotular essa troca
Sem ser “namorada’, “amante”, “mulher”

Porque quero apenas
Ser bálsamo de felicidade
Porto seguro de lealdade
E edredom de abraço para me ninar

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ao tempo

Frio e chuva são inimigos nº1 dos fins de semana carioca. No Rio de Janeiro, abrir mão de qualquer programa porque as ruas estão molhadas e frias é cultural e os dias de inverno típico ditam o maior point da estação: a própria casa. Com temperaturas mais amenas, os únicos lugares que, de fato, ficam cheios são as videolocadoras. DVD´s e algumas fitas – ente sobreviventes e clássicos que ainda não estão disponíveis na mídia mais moderna – fazem a alegria do carioca acuado pelo frio e pela insegurança que assola a cidade. Assim, os últimos dias foram um festival de filmes, no aconchego do lar.
Muito Almodóvar e seus dramas, muitas mulheres, suas histórias e carrascos, pedófilos e tantos outros personagens habitaram minha casa, o destaque, no entanto, passou longe do brilhante espanhol. Meu oscar foi para o nada inédito mas, tocante e surpreendente “Adorável Julia”, de István Szabó. Aparentemente despretenciosa, a história é uma celebração da maturidade feminina. O exemplo de uma mulher que se refaz, mesmo quando o tempo mostra que o ser é perecível. Por isso, é comovente perceber o quanto a protagonista Annette Bening, que interpreta a atriz Julia Lambert, se entrega às angústias de ter vida pública, sente o peso de “representar” em tempo integral, enxerga em pouquíssimos a possibilidade de trocas mais sinceras e livres de interesses, se ressente do casamento que sustenta e encara – sem medo e sem amor – a aventura e a leveza da relação extra - conjugal. E, melhor ainda é ver o triunfo dessa mesma mulher, quando sublinha o valor sentimental e mais denso das relações que construiu ao longo da vida e enxerga o legado positivo do tempo (!). Se vê sábia, segura e talentosa e reconhece o poder dos elos indissolúveis de densidade e amor, que permeiam as relações afeto, amizade, matrimônio e tantas outras que costurou por toda a vida. Mas, acima de tudo, vê que a plenitude da felicidade depende, exclusivamente, do quanto conseguimos ousar para conquistá-la. Julia abandona a condição passiva – “sou o que o mundo fez de mim” e assume a responsabilidade pelo que é. Consciente do próprio poder e força entende, por fim, que pode se bastar, ser auto-suficiente, completa em sua solidão e feliz.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Descarrego

Para quem sofre de gastrite, comer junk food é quase uma sentença de morte. Algo que fica subentendido a partir do momento em que o pedido é feito para o garçom/ caixa. Parece até que a mente faz um registro de que você DEVE, obrigatoriamente, sofrer com azia, pelo resto do dia.
Além dos sanduíches bombásticos muitas outras coisas me dão azia... Sentir um olhar arrogante, lidar com a intolerância, conviver com o comportamento eterno – adolescente de gente mimada, viciada em reclamar, “entubar” um rio de preconceitos, ter vontade (e não poder) socar até a morte pessoinhas asquerosas, convictas de que são sutis e finas...
Nem com cinco litros d´água e mil envelopinhos de sonrisal consigo dar fim ao mal-estar de conviver com certas situações. Pois, se por um lado, o maior e mais fascinante desafio da vida é aprender a com – viver, por outro, existe a necessidade da auto – preservação, de cultivar o amor próprio e respeito aos próprios sentimentos e inclinações. Quando sacrificamos essas condições, mergulhamos num ritual de auto-flagelo, que é a maior das dores, porque perpetua a culpa e semeia a baixa auto – estima. Por enxergar essa verdade, quero uma vida com mais escolhas e menos conveniências.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Homem de Neanderthal

Feriado que se preza começa de véspera, mais ainda em grandes cidades.Lugares que precisam “parar”, respirar e lembrar que nem só de pão vive o homem.Embalada por essa cadência, embarquei numa noite que amanheceu... Numa pista de dança visitei os extremos que foram da alegria ao choque. Dancei despreocupada, vivi a euforia de encontrar amigas, e deixei a endorfina anestesiar o corpo, para não sentir os pisões nos pés. Mas, o hormônio do bem-estar foi impotente diante das cenas de selvageria que testemunhei perplexa. Mesmo sendo uma legítima libertária, não pude deixar de me chocar com o grau de superficialidade com que as pessoas se “relacionam”.
Era incrível ver homens que quantificavam beijos - de mulheres diferentes - como se a conduta neanderthal fosse o ideal de virilidade!Na selva da “balada” a campanha pró – sapinho ganhou força e a rotatividade da “troca de casais” era impressionante.
Antes que você, leitor, resolva me rotular de conservadora, moralista, careta ou qualquer outra coisa, faço a pergunta que não quer calar: Que graça pode haver em beijar mil bocas sem que exista qualquer troca mínima de afeto?Ok, você pode lembrar que noitadas cariocas são festas dos sentidos mas, o que vejo, é uma marcha, marcada por um retrocesso pré-histórico, que só me mostra um mundo de pessoas primárias.
Parece haver uma síndrome de “animalização” generalizada. Afinal, o que esperar de gente que joga lixo na rua, ignora leis de trânsito e é incapaz de fazer uma gentileza para um idoso, por exemplo?
Homens (e mulheres) de neanderthal alcançam o ápice de suas “performances” em boates e micaretas. A
cadêmicos de plantão poderiam explorar mais o assunto.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Massa Rosa

Salada alemã, arroz fresquinho, salada de legumes, um frangão assado e uma mousse de morango foram, quem diria, o suficiente para reunir à mesa as pessoas mais queridas e presentes na minha vida. O menu, inspirado pela “confort food” e, mais honestamente, pela minha pouca disposição de criar pratos mirabolantes, surgiu da constatação dura de que as pessoas se dedicam, única e exclusivamente, a uma vida ordinária, pautada pela necessidade de fazer dinheiro e pagar contas.
Amigos e pessoas que se afinam já não destinam mais qualquer tempo à troca de idéias e ao resgate do que, de fato, tem valor, o que se leva da vida: as trocas humanas. Receber pessoas, bater papo, saborear comida simples e boa, ver um filme e revirar as lembranças soltas no passado, através de sabores...Cinthia, uma das convidadas, rememorou a própria avó através da sobremesa (a tal mousse de morango) e explicou que meu pretensioso prato nada mais é do que a “massa rosa”, que a vovó dela fazia, há décadas atrás.
Depois da emoção da lembrança, muita conversa, comilança e filme no DVD, encerrei a noite com a sensação confortável de que a doçura da vida está bem perto. Muita massa rosa para você!!!