quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Olhar para fora

Apaixonada pelas coisas simples - e indispensáveis da vida - sigo num encantamento sem fim pelo vento, sol, ondas do mar e pela a malha verde da vegetação carioca.
Suspiro apaixonada pelo que vejo da janela do ônibus, a cada manhã. Amo mais e mais: o Aterro, a Enseada, a Marina, a Praça Paris (!), o Passeio Público, a Cinelândia...
Faço da carioquice da Lapa meu alimento espiritual e sorvo o ar que vem das ladeiras. Poderia viver feliz sem ter pisado em estonteantes cidades mediterrâneas, mas não sou capaz de sobreviver sem ouvir os acordes feitos na liberdade democrática do Samba da Ladeira!O ar fica rarefeito se dispenso a Babilônia dos Arcos e a batucada misturada que vem dali...
E, de tudo que a Lapa me ensina, destaco as lições cosmopolitas que desfizeram a máxima "Narciso acha feio o que não é espelho".
Viver o Rio não é, simplesmente, morar na cidade, mas assimilar as filigranas e peculiaridades de um lugar maravilhoso porque acolhe o novo. É entender que esse mosaico só se mostra para quem deixa os preconceitos de lado quando olha para fora, para o outro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O dever e o prazer de todo dia

Se a maior angústia humana é entender ou encontrar o sentido da vida, agradeço a Manoel Carlos por ter me dado as coordenadas...Em recente artigo assinado pelo autor, a tese simplista, porém certeira, de que a arte, o exercício criativo e o trabalho são as causas que justificam a existência foi corroborada. Para defendê-la, o amante do Leblon usou exemplos de artistas – expoentes, que viveram em função da arte. Um deles foi Cândido Portinari. Por conta dos efeitos nocivos do chumbo que havia em algumas tintas, Portinari foi proibido de pintar para preservar a saúde, já fragilizada pelo tempo e doenças. O veto, em si, foi a sentença de morte mais contundente que a própria doença. Afinal, sua força vital estava na arte, no exercício de criar. Sendo assim, Portinari retomou suas obras, para retomar a própria vida, ou melhor, o único modelo de vida que considerava legítimo.
Longe da grandeza artística, histórica e cultural de Portinari e perto da vida anônima que segue, transporto o exemplo para o nosso plano e comemoro a lembrança de pessoas realizadas com o que fazem. Essas, de fato, parecem entusiasmadas quando falam de trabalho, vivem criando novidades e ficam saturadas de férias longas...Afinal, para que o tanto ócio quando o dever é um prazer?