quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fração

As vezes esqueço chaves, carteira e celular . As vezes dias de sol e feriados em seqüência me fazem esquecer coisas mais perenes: o fato de que entramos e saímos do mundo, sozinhos. A noite da última segunda - feira foi categórica e didática ao me dizer isso... Com o volume d’água despejado pela chuva intensa, fiquei sitiada dentro de uma galeria de arte. Depois de longa espera, me aventurei e tentei andar por ruas alagadas, escuras e desertas onde só carros se amontoavam num engarrafamento causado pelo fluxo natural daquela hora e pelos “rios” que se formavam a partir de bueiros entupidos.
Depois de cruzar as quatro pistas da maldita Av. das Américas, cheguei a um ponto de ônibus e me senti em um Oasis – ali avistei pessoas e pouco depois encontrei um ônibus que, com algum esforço, me deixou perto de casa. Ao saltar, caminhei por ruas devastadas pela chuva e esvaziadas pela noite. Minutos depois, cheguei em casa e todo o conforto doméstico não amenizou a sombra da solidão. Minha casa vazia foi mais opressora que as ameaças das ruas inundadas e inseguras. Entregue à solidão daquele instante, tratei de dormir para me livrar do grito daquele silêncio.
Anestesiada pelas horas de sono, acordei em paz, porque assimilei a solidão e fiz “dela” uma companhia. Quando essa transformação acontece, cessa o estranhamento.O ar vira concreto,o efêmero vira constante e, nessa condição, deixa de ser um “corpo estranho” – passa a ser parte do teu próprio corpo,da tua própria alma e se torna pedaço do teu grande mosaico interior.

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