quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Os segredos do Horto

Reserva ambiental é a maior atração de Campos do Jordão

De imediato, Campos do Jordão remete à arquitetura germânica, restaurantes requintados e doçuras de boas fábricas e lojas de chocolate. Tudo isso é muito bom, mas nem de longe se aproxima das maravilhas que só podem ser encontradas no Parque Estadual de Campos do Jordão, a poucos quilômetros dali.O primeiro parque estadual criado no Brasil, tem área de 8.341.000 hectares protegidos por lei. O espaço corresponde a 30% do município de Campos do Jordão, onde espécies quase extintas da fauna e flora brasileira são admiradas, através de um complexo de atrações como trilhas, cachoeira, atividades de aventura, restaurante, café, passeio de trenzinho e muito mais!
Mas o Horto Florestal, como é chamado por locais, também atua na preservação e promoção de educação ambiental básica, além de dar suporte à comunidade acadêmica. Para conhecer bem todas as facetas desse lugar o “Bate e rebate” foi a campo e a blogueira que vos fala se instalou no Horto por quatro dias. Confira a experiência!


Intrigada com o quase desconhecimento do Horto Florestal de Campos de Jordão, resolvi fazer uma matéria que desse a esse paraíso alguma divulgação. Acertados os detalhes da autorização para a reportagem e pormenores sobre a minha permanência na área da reserva, tratei de arrumar a bagagem e parti entusiasmada. Ao chegar, fui surpreendida com a notícia de que o Parque sofria seu terceiro incêndio no período de um mês!Além da tristeza de pensar em araucárias centenárias atingidas pelo fogo, os indícios de que se tratava de um incêndio criminoso reforçaram meu compromisso de promover esse lugar e chamar a atenção para a necessidade de sua preservação, antes que seja tarde...
Nos três últimos episódios de incêndio, a perda foi de aproximadamente 300 m², 25 e 15 hectares. Fogo apagado, prevalecem os ares do bem que circulam por ali. Um exemplo é a parceira do Parque com a comunidade acadêmica. Por meio dessa boa relação, pesquisadores tem no Horto uma fonte vasta de material e a guarida da administração do Parque, que sempre os hospeda em uma casa dentro da reserva.
Dessa vez, mestrandos e doutorandos da Unicamp dividiram a casa comigo. O professor Rafael Oliveira explicou que o propósito da pesquisa atual é monitorar a resposta da flora diante da mudança da quantidade de chuvas. Para isso, o professor e seus alunos Gabriela Atique e Caio Miguelli chegam a pontos de grande altitude do parque e recolhem amostras de diferentes espécies da flora. No dia em que cheguei, por exemplo, a equipe trabalhou desde às 2h da manhã e só retornou a noite. Tudo pela ciência!
Me despeço dos acadêmicos e me aproximo de outro viés da educação, que ganha força no Horto Florestal. Na minha estada no parque também pude acompanhar a visita de uma turma de estudantes do Colégio de Aplicação de Osasco. “Há alguns anos trago várias turmas de alunos aqui no Horto. A beleza do lugar só reforça a importância das
noções de preservação ambiental que eles conhecem durante do passeio guiado”, analisa o professor Edson Almeida.
O “passeio guiado” a que o Edson se refere é, na verdade, uma trilha de 4,7km. Nesse trajeto, os jovens ganham uma verdadeira aula sobre a história do Horto Florestal. E curiosidades de espécies encontradas no caminho são esmiuçadas pelo didático Roberto Günter Sant’Ana Fiolka, monitor ambiental. Saudável e instrutiva, a caminhada guiada pela trilha termina com uma cachoeira que recompensa bem até os mais preguiçosos.
Mais um gol do Horto em relação à educação são os resultados do projeto “Criança Ecológica”. Essa iniciativa transmitiu noções de educação ambiental para cerca de 400 crianças do município de Campos do Jordão. “Assuntos como coleta seletiva do lixo, características e diferenças entre espécies nativas e exóticas são usados para aproximar a criançada do Horto, quebrar o mito de distância, o medo em relação à floresta e difundir a cultura de Parque ambiental, que é ainda é pequena no Brasil”, explica Bruno F. Silva, monitor ambiental do Parque.
Tudo isso ganha reforço extra com as atrações radicais que aventureiros encontram no Horto. Lá também é possível praticar escaladas em árvores e até tirolesa no canyon do rio Sapucaí. E tudo com orientação e equipamentos de segurança apropriados. As atividades custam entre R$45,00 e R$60,00 e podem ser contratadas no local, pela empresa Zoom.
Se você não é chegado a tanta adrenalina, sem problemas! A emoção tem muitos contornos e formas mais leves no Horto. Afinal, é inevitável se admirar com a beleza de pereiras em flor, reverenciar a grandeza das araucárias e se render à vastidão da fauna e seus animais tão coloridos e até raros. Espécies como o pica-pau-dourado, macaco-prego, serelepe, suçuaruna e tantas outras vivem em paz e em liberdade no Parque.
Por tudo isso, pode-se dizer que o quase septuagenário Horto Florestal (que tem 69 anos de fundação) vai muito além de sua nobre missão original de salvar da extinção as araucárias. Vale – e muito – a visita!





5 comentários:

Taty Bruzzi disse...

Raquel, adorei. Sempre quis conhecer Campos do Jordão e imagino com deve ter sido um passeio delicioso. Tirando a parte das queimadas.

Bjs

Unknown disse...

Muito boa a reportagem....Adorei!!!!
Juliana
Monitora do Parque Estadual de Campos do Jordão

Raquel Med Andrade disse...

Taty e Juju,
Foi um passeio perfeito - tipo de trabalho que adoraria transformar em rotina!
Vale a distância!
Beijos

Unknown disse...

Obrigada por divulgar um pouco mais desse lugar super importante do ponto de vista ecológico e econômico. É realmente impressionante a pouca quantidade de informções a respeito desse local. Principalmente que o parque está inserido no contexto da Serra da Mantiqueira que é um dos ecossistemas mais importantes e mais ameaçados hoje no Brasil. Reportagens como a sua são de fundamental importância para a divulgação, conhecimento e preservação dos sistemas ecológicos cada vez mais ameaçados. Abraços.
Gabriela Atique
Bióloga, Doutoranda Universidade Estadual de Campinas

Raquel Med Andrade disse...

Gabriela,
Eu é que agradeço tua leitura e participação por aqui. Porque, além da interação, é importante ter a consciência da vulnerabilidade desse ecossitema e de que todo o esforço para preservá-lo ainda é pequeno.
Beijos