segunda-feira, 23 de março de 2009

Rosas e espinhos

Há quem diga que melhor o momento de qualquer viagem é o instante em que voltamos para casa. Viajei, cheguei em casa há dias e até agora não senti esse gostinho...Ainda vivo um choque de realidade e não tenho vontade de acabar logo com isso. Respeito a existência desse sentimento e acho mais que natural sentir falta de tudo - da louça que eu não precisava lavar, passando pelos lugares e pessoas incríveis que conheci para chegar ao ponto primordial da experiência de uma viagem feita em família: o aprendizado de que muito mais que com(viver), o grande desafio da vida é amar as pessoas que a vida lhe deu e que você escolheu, da maneira que elas são.
Os dias de estreita convivência com minha irmã, pais, tios, primas, velhos conhecidos e novos amigos, só confirmaram que seria um grande desperdício abrir mão de curtir a pluralidade de sentimentos que a diferença oferece. Não falo apenas da utilidade prática desse aprendizado, porque não quero me ater às virtudes que me ensinam a ter ou mesmo aos defeitos que evito, a partir do que vejo nos outros. Acima de rosas e espinhos enxergo a grandeza da existência de cada ser e por isso, quero amá-los generosamente.

sábado, 7 de março de 2009

Deixem o calendário como está!

Mais um oito de março se aproxima e, com a data, vem também a “celebração” do Dia Internacional das Mulheres. A escolha surgiu como um marco simbólico das injustiças que as mulheres sofreram ao longo da história. Não à toa, a lembrança ficou para o oitavo dia do mês de março. Em 1857, 129 operárias foram trancadas e incendiadas vivas, em decorrência de protestos por melhores condições de trabalho.
Atualmente, há quem pense que é um despropósito manter a data no calendário mundial. Afinal, é grande o número de mulheres que chefiam famílias e empresas, crescente o percentual daquelas que ocupam postos de trabalho tipicamente masculinos e ainda maior a quantidade das que conquistam qualificação.
Tamanha feminização do mundo, no entanto, quase some, tendo em vista a questão da violência contra a mulher, que ainda compõe uma sucessão de barbaridades, vistas cotidianamente, em manchetes de jornais.
Um exemplo muito evidente disso é o caso da criança de 9 anos, estuprada pelo próprio padrasto.Grávida de gêmeos, a menina foi submetida a aborto legal - já que além de ser resultado de um estupro, a gravidez pôs a vida da gestante em risco.
Afora a proximidade constrangedora com o Dia Internacional das Mulheres, os desdobramentos do crime mostram que, infelizmente, a existência da data não é um despropósito. Enquanto o estupro não for um caso isolado e a Igreja Católica considerar legítimo excomungar responsáveis por um aborto como o que está em questão, ainda será necessário deixar o calendário como está.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Aromas do mundo

SPA´s, retiros espirituais, circuito Barra – Ondina, blocos que somam milhões de seguidores e desfiles de escolas de samba, acionam uma espécie de alarme anti – bomba em mim. Embora sejam coisas diferentes, todas vendem uma promessa de felicidade. Acontece que todas as vezes que tentei ser feliz através de métodos previsíveis, como esses, me senti tragada por multidões ou engabelada por teorias religiosas e/ou radicais.
Então, quando olhamos o cardápio e não encontramos o prato que nos agrada, o jeito é recorrer à novas alternativas. Eu escolhi fugir. Criei meu próprio retiro e parti rumo a uma estranha cidade do litoral paulista. Para chegar ao destino, passei por uma espécie de purgatório - nove horas de engarrafamento caótico. O martírio no trânsito foi muito bem compensado já na chegada, quando guardas florestais explicaram as normas de uma praia protegida por reserva ambiental. Quando avistei o mar, meu HD encontrou a palavra paraíso. Afinal, que nome dar a uma praia de reserva, com areia fina e branca, com quilômetros de extensão e mais nada? O único camping autorizado a funcionar ali foi minha casa. Com toda a parafernália de acampamento organizada e tendo o carro como armário – copa – maleiro – dispensa, resgatei o sono perdido na estrada e iniciei meu período sabático.
Durante o reconhecimento da área, percebi que cada extremidade da praia contava com um rio a desaguar no mar. Assumi algum DNA indígena e curti a alternância de correntes quentes e geladas, tão típicas dessa quase pororoca. Depois, caminhei por muitos metros mar a dentro e, como ainda encontrava pé, curti as ondas quebrando no corpo. Quando a noite caiu, fiz uma escolha pouco comum entre mulheres: tomar banho gelado.E acho que isso aconteceu por conseqüência da experiência. Em lugares como esse, nos damos conta que somos animais e que nosso nível de interação com a natureza pode ser muito maior e menos predatório que podemos imaginar. Não tenho conhecimento de causa para dizer se essa idéia tem fundamento lógico, acadêmico ou meramente instintivo o fato, é que só me lembro que o bater da ondas no corpo era sentido muitas horas depois do banho de mar, a ponto de me causar uma tonteira, uma certa embriagues que marcaram esses cinco dias.
A festa dos sentidos veio, literalmente, do céu. Se as luzes da cidade conduzem aos caminhos do conhecimento, o breu da natureza revela uma imensidão de estrelas e mostra que o universo pode nos presentear com verdadeiros espetáculos.
Nem preciso dizer que depois de refestelar os sentidos, fui me distanciando naturalmente de tudo o que criamos e “agregamos valor”, na tentativa de deixar a existência menos dura. Num estado de paz, pude ver que muita coisa é demais, é excesso. Carros, roupas sofisticas e cosméticos importados, por exemplo, são supérfluos ainda mais dispensáveis naquele paraíso.
Acho além de todas as lembranças maravilhosas, dos cheiros, das imagens e das fotos, esses intensos cinco dias mudaram meu entendimento sobre o que somos. Depois de ser acordada pelo o barulho das ondas, se vê o quanto a natureza é grandiosa e quanto somos pequenos diante dela. Só então passamos a dar às coisas a importância que elas realmente têm. Enquanto o individualismo da vida urbana nos empurra para fazer até do perfume que usamos um traço da própria autenticidade, a exuberância da natureza faz o convite contrário. Tirei “férias” dos meus perfumes porque considero autoritária a atitude de impor aos demais e ao próprio ambiente a “minha marca”. Quero sentir os aromas do mundo.

OBS: Não revelei meu destino porque sua condição de paraíso ecológico pede segredo.