sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Onde?

Nos últimos dias, sem qualquer motivo concreto, interrompi várias noites de sono, fiquei entediada por muitos momentos, tive pesadelos, fiz faxinas, lavei louças e roupas desesperadamente. Acho que, inconscientemente, limpar tudo que via pela frente representava alguma esperança de me livrar de subterfúgios inúteis. Exorcizar todas as coisas de importância nula, que buscamos para preencher nossas lacunas.
As tentativas de “substituição” são muitas. Todo o seu “fantástico mundo” entra na lista. A arrumação da casa, o livro cuja leitura ainda estava pendente, a conversa com uma amiga, um jantar com as meninas da Confraria do Garfo, uma conversa ao telefone, tudo o que é habitual ganha um peso muito além do merecido...
Quando o disparate fica claro e as “atividades” se esgotam, sobram dúvidas e interrogações. Cresce a sensação de estar desnorteada, vazia e sem rumo. E tudo o que fez ou faz na vida perde o sentido. Escolhas antigas e recentes, objetivos, metas e sonhos perdem, repentinamente, a importância. Porque, afinal, se descobre que tudo o que a humanidade inventou – as coisas que “dignificam” a existência, as parcerias, as relações, os “sonhos de consumo”, as coisas que agregam “status social”, tudo enfim, não passa de um esforço desesperado para aplacar nossas pulsões, nossos desejos e, sobretudo, nosso estado de insatisfação diante da vida.
Acho pretensioso imaginar que há algum sentido real nessa aventura errante de existir, mas vejo – com clareza – que nossos desejos e angústias são fugas de nós mesmos. Porque não há nada mais pleno que as respostas que moram em cada singular coração. Nenhuma “comproterapia” substitui a sensação de perceber que certas buscas frenéticas devem obedecer outro vetor...
A felicidade não está no carro que a indústria quer que eu compre, no vestido que custa uma fábula, no bilhete premiado, em qualquer tipo de relacionamento ou nos “demais”. O bem – estar, a famosa “paz”, se esconde numa filigrana da própria alma e eu vou tentar encontrá-la.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Visita

Gelatina, cafeína, cozinha,
Conversa sem pressa, remessa
Papo pro ar...

Qualquer notícia, e-mail, mensagem
Nada consegue apagar
As pistas de que você esteve por lá

Porque são impressões sutis
e ao mesmo tempo marcantes,
de uma visita furtiva e delirante
que não queria acabar...

sábado, 8 de novembro de 2008

Tempo

O que é o tempo?
Não é o devir das horas,
nem o prazo findo,
nem tampouco a alvorada do dia.

É a estrada que nunca se encerra,
Nem encontra sua paralela,
Mas que vive em transformação.

É a busca pela própria alma,
É encontrar a calma
E se livrar da angústia do perto – longe de nós mesmos

O tempo é caminhar
Para a morte– vida – nascimento
Achar a própria essência
E fazer de si obra em eterna construção

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Samba de uma nota só

Eleições municipais teceram meus últimos e espaçados comentários por aqui. Quero arejar esse “samba de uma nota só” com um post pretensioso por duas razões: é auto- referente e tem ambição poética... Mesmo com a terrível e dupla vaidade que inspirou sua criação,recomendo a leitura. Ainda mais se for lunático(a) como eu.

Intervalo

Se a razão fosse meu aporte,
Não pesaria a dor desse intervalo
Seu cheiro no meu braço
e esse ar que respiro agora

Se a razão fosse o meu norte,
Seria vã minha aflição
Seria inútil a amplidão desse arroubo
Não seria enfim...

Se a razão fosse o meu chão,
Não seria tão grande a vontade de lhe ouvir e ver...
Não sentiria infinito o desejo de me perder...
Para me achar

Não estaria entregue à angústia desse intervalo,
E nem daria um grito de renúncia
Não fugiria desse instante, nem abandonaria meu melhor momento