sexta-feira, 29 de maio de 2009

Garoa

Chuva fina me faz lembrar você
Querer-te de perto e ao longe
Querer – te
Querer – te ter

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Entre duas águas

As horas passavam e com o avanço do tempo, crescia também a necessidade de refletir. Num ato simbólico, fiz uma faxina , como se limpar a casa fosse ordenar minhas idéias por tabela. A movimentação antecipou a fome. Também precisaria tratar do estômago.Para isso, fui ao mercado comprar um ingrediente ou outro que usaria na refeição. No caminho, recorri aos DVD’s – a ficção é uma fuga imediata da própria realidade e, ao mesmo tempo, um visto permanente que nos confere lucidez para ver e pensar na própria vida a partir do paralelo que traçamos entre o real e a fantasia.
Levei para casa “Vicky Cristina Barcelona”, de Wood Allen. Tinha boas referências do filme e recomendações expressas de um amigo zeloso para que conferisse...
Gostei do que vi, mas não me ative aos rótulos sobre o caráter dos personagens. O que me arrebatou foi a violência da verdade e, diante dela, os subterfúgios usados pela maioria das pessoas, como opção de vida. Afinal, a verdade dói ...Por isso, a opção pela honestidade absoluta é honrosa, bonita e só vale para quem tem força e desprendimento emocional suficientes para suportá-la.
O dilema entre ser transparente e ser político (e assim levar a vida de uma forma mais "confortável") é muito bem ilustrado pela canção “Entre dos aguas”, de Paco de Lucia. Além de linda, a música tem a dramaticidade demandada pelos conflitos e bifurcações que os personagens vivenciam.
“Vicky Cristina Barcelona” poderia ser um mosaico de amores e dramas bem ambientado pela cultura catalã mas, na verdade, é uma ode à coragem dos que escolhem viver em consonância com os próprios sentimentos, independente do preço que pagam por isso.
OBS: Você pode ver ou rever algumas versões de trailers aqui do lado : )

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A democratização do sabor

Ontem o povo carioca e seus visitantes viveram o último dia de um evento gastronômico muito bacana, o “Rio Restaurant Week”. A novidade começou em Nova York, há dezesseis anos atrás e foi importada para as bandas de cá com muito sucesso. Vide a disputa pelos restaurantes mais concorridos e a mobilização em torno de almoços e jantares. Afinal, além de contribuir com um projeto social, o evento viabilizou o acesso a grandes casas, durante duas semanas.
A iniciativa foi bem sucedida porque, entre tantas outras coisas, mostrou ao mundo que o Rio de Janeiro tem muito mais que a beleza natural. A cidade maravilhosa conta com legítimos representantes da boa gastronomia que, provavelmente, eram desconhecidos pela maioria das pessoas. Antes que você, leitor, se manifeste para falar que já encarou mil filas para comer no restaurante X ou que nunca conseguiu uma reserva no Y, devo dizer que a maior parte da população carioca nem mesmo cogitou fazer uma única refeição em um restaurante mais requintado por uma razão mais objetiva: falta de recurso.
Então, pelo menos por duas semanas, as melhores casas ficaram abarrotadas. E foi comum perceber grupos de colegas de trabalho fazendo de um almoço de meio de expediente uma experiência memorável. Entre entradas, pratos principais e sobremesas, o Rio Restaurante Week teve o mérito de fazer ação social, divulgar tesouros da gastronomia carioca, aproximar as pessoas, propiciar boas experiências de degustação, além de revelar a capacidade de articulação e organização de um setor fortíssimo, capaz de resistir a qualquer crise econômica.
Que venham as próximas edições do evento porque o povo também merece restaurantes como Casa Julieta de Serpa, Rio Skylab, Vizta, Bar D’Hôtel, Miam Miam e tantos outros, que tiveram seus salões lotados por um público ávido por sabor e novas experiências.

sábado, 23 de maio de 2009

Abduzida

Minha noite de sábado mal havia começado e tinha o interesse imediato em parar quieta e relaxar um pouco. Como a casa cheia me afastava da paz que eu queria, pus o celular e algum dinheiro no bolso para andar livremente. Saí sem rumo nem destino e percebi que as vias principais do bairro estavam mais agitadas que o normal. Um bom número de pessoas aguarda na faixa de trânsito para atravessar o sinal e outras tantas circulavam pelas calçadas próximas. Logo me dei conta que a mobilização em torno da orla rolava em função do tal “disco voador” simulado por um artista. Alheia ao acontecimento e as piadas nada originais que ouvia (você quer ser abduzida?), andei até me sentir cansada...em vão . Nem a caminhada, nem a pipoca doce (e super caramelada) que comi, nem todos os “personagens” que avistei, conseguiram me livrar da ansiedade que me devorava. Sabia que em pouco tempo sairia para dançar - mesmo assim, a única musica que me rolava na memória era uma que, entre outras coisas, canta assim:
Stop playing with my heart
Finish what you start
If you want me let me know
Baby let it show

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pleno

Desejar o que não há,
buscar o que não tem.
O descontentamento
é o motor que nos faz desejar 100% - de si e de outrem.

E então, por mais que tudo “vá bem”,
sempre se quer mais e além...
Nesse oceano de angústia,
quero não querer por um momento

E quero só
Contentar-me com a paz
para chegar ao pleno

quarta-feira, 20 de maio de 2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Entre flores e lembranças

O comércio associa o mês de maio às mães e às noivas. Para mim, maio representa a vovó Maria. Ela foi a mãe social do meu pai, minha avó, minha madrinha e certamente, uma das mulheres da minha vida.Ela não fazia aniversário em maio mas, é nesse mês que eu me recordo dela de uma forma muito simbólica.É em Maio que eu tiro do armário o um edredom florido, que herdei dela. E até outubro ou novembro durmo entre as flores impressionistas e as lembranças que povoaram minha infância, adolescência e alguns anos da minha vida adulta.
Mesmo na infância, sempre olho a vovó Maria numa dualidade agridoce. Ela era, ao mesmo tempo, gentil e dura. Gentil porque tinha um carinho genuíno por mim, eu sentia isso.Acho que esse sentimento existia graças à semelhança que ele sempre estabeleceu entre eu e meu pai...Esse afeto me rendeu muita atenção da vovó. Embora seu forte não fosse a criatividade, ela se esmerava para fazer bolos de aniversários mais originais a cada ano. Lembro especialmente de um deles, que tinha até a casa do Snoopy, o próprio personagem e um arco – íris em cima!Nem parece que essa avó amorosa era a mesma que, com freqüência, recebia a mim, meus pais e irmã, perguntando: “O que vocês estão fazendo aqui?”
E foi assim, entre afagos silenciosos e a sinceridade habitual da D. Maria, que eu aprendi a admirá-la. Os anos se passaram, ela envelheceu, mas ainda em seus últimos tempos, estampava uma sofisticação nata, um ar sóbrio, uma integridade inabalável e o gosto por novidades. Me divertia ao vê-la desejar eletrodomésticos arrojados. A vovó Maria gostava de tudo que estava relacionado ao estilo de vida moderno, como é típico das pessoas que são do interior.
Já na casa dos 90, ficou com a memória e a lucidez abaladas pela velhice. Em seu último ano de vida, sofreu por conta de um câncer severo. Quando a doença apertou, fui morar com ela para acompanhá-la de perto. Dia após dia, ela sucumbia à doença, perdia peso e sofria com enjôos. Mesmo debilitada pelo câncer, ela seguia altiva.
Poderia me ater às lembranças tristes e fortes da doença, do corpinho esquálido, da agonia de ligar para a casa dela todos os dias, quando chegava ao trabalho (ficava apreensiva de que alguma coisa tivesse acontecido no intervalo entre a saída de casa e a chegada ao trabalho). Poderia remoer o sofrimento da lembrança do dia em que cheguei do trabalho e já não a encontrei...Ainda dá um nó na garganta de lembrar as cenas do enterro, o momento do sepultamento e da despedida.
Mas, nem mesmo a revolta de meu pai por eu não ter ido viver com ela bem antes do que eu fui, me causa raiva e prejudica o que realmente ficou desse convívio. Hoje, com a poeira baixa, entendo que a cobrança do meu pai era a manifestação da culpa que ele carregava por não ter participado do episódio como gostaria.
No tumulto dos episódios que marcam a história de uma família, ficam meus melhores momentos com a vovó Maria. A viagem que nós duas fizemos juntas, os bolos que ela criou para mim, as fotos do meu batismo (em que ela me carregava no colo), o sotaque gaúcho ao pronunciar meu nome, os fins de semana em sua casa, as ceias de Natal com certa pompa e circunstância, o gosto por perfumes franceses e a integridade que ela também me ensinou a ter. Até novembro dormirei com você, vovó.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Doce

Doce, dulce, dulcíssimo
É idealizado
É meu ideal de belo

Querido
amado,
doce abraçável,
farto

Abundante
Generoso
Formoso

És forte,
fraco
e doce
Um doce bárbaro

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Incoerências

Eco - chatos que tomam banhos demorados;
Deputado que dirige com carteira de habilitação vencida, ultrapassa a velocidade máxima e mata duas pessoas;
Cardápios sofisticados de gosto duvidoso;
Político que “se lixa” para a opinião pública;
O PT do passado e o PT do presente;
Amor e ausência;
E a maior de todas: ser cidadão de bem e eleger Fernando Ribas Carli Filho.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Dia fatídico

Estou começando a sentir medo da segunda – feira..Oh diazinho esquisito!Há pouco tempo atrás narrei uma segunda – feira chuvosa, que me deixou ilhada. Hoje, depois de dormir um sono sossegado e me dar conta que não estava sonhando, volto aqui para dividir com você, leitor, um quase pesadelo de ontem – outra segunda – feira estranha...
Ontem, parti para a cidade de Juiz de Fora, com o objetivo de voltar quanto antes.Resolvi tudo o que precisava e logo voltei para a rodoviária, onde pretendia trocar um bilhete de retorno, pois não precisaria ficar na cidade até às 18h. Não consegui trocar o tal bilhete e acabei embarcando no ônibus das 18h. Depois de esperar um bom tempo e sentir o friozinho mineiro que chega com a noite, segui aliviada para o RJ. Qual não foi a minha surpresa quando, de repente, o motorista anunciou que o ônibus havia enguiçado...
Me juntei aos não sei quantos passageiros para me socializar e me distrair. Unidos no fracasso, encontramos um telefone fixo, de onde era possível fazer ligações a cobrar – nossos celulares não funcionavam ali. Tentei ligar para minha irmã e para meus pais, sem sucesso...Incomunicável, com frio e ainda sem almoço (fiz um lanchinho rápido que logo trouxe a fome da espera) comecei a costurar alianças para encarar a segunda fase do retorno para casa: o translado para o meu bairro. Logo descobri três pessoas que iam para o bairro em que moram minhas primas e decidi dormir na casa delas.
Já na estrada, bem mais a frente, meu celular “voltou a vida” e com ele chegaram as primeiras ligações, que começaram pela melhor amiga (me ligou por telepatia – ela não sabia da viagem, nem muito menos do contratempo). A partir daí, segui tranqüila e curti o climão de informalidade e “novos amigos de infância” que reinava no busão. Piadas e conversas alinhavaram o retorno ao lar, doce lar.
Chegamos a rodoviária Novo Rio antes do previsto e resolvi encarar a volta para casa sozinha. Me despedi dos colegas – vizinhos das minhas primas e parti para o meu próprio bairro. Em casa, só pensava em me benzer, tomar banho de sal grosso ou procurar alguma mandinga que me protegesse dos acasos das próximas segundas. Saravá!!!!

sábado, 9 de maio de 2009

A(s) fórmula(s) para o sucesso

“Toda boa idéia tem seus limites. A criação de cotas deveria ser definida como recurso de emergência, para durar enquanto o ensino médio público não atingir o nível médio desejado, e o diploma universitário deixar de ser, pelo menos aparentemente, a única chave do sucesso para jovens brasileiros de qualquer nível de renda”

É inegável que o propósito do das cotas é justíssimo: amenizar as conseqüências desastrosas do erro histórico que foi a escravidão dos negros no Brasil. No entanto, como lembra Luiz Garcia, em artigo publicado nessa sexta – feira, no jornal "O Globo", a política do acesso universitário por meio das cotas deve ser usada com moderação e por tempo determinado. Afinal, que será da pouca qualidade e padrão que ainda restam às grandes universidades públicas brasileiras, diante de um alunado despreparado em sua base?
É evidente que a facilidade proporcionada pelo acesso através das cotas tem um preço caro. As cotas viabilizam o ensino superior mas, por outro lado, debilitam - de uma só vez – o próprio ensino superior e médio. E isso só tende a piorar. O processo de sucateamento do ensino público brasileiro obedece a uma seqüencia simples: a flexibilização do acesso universitário afrouxa os critérios de aprovação para e durante o curso superior. O mesmo acontece em relação ao ensino médio.Ninguém precisa ser especializado em educação para entender que o estudante que não precisa passar por uma peneira de seleção apertada, já entra no ensino superior debilitado e leva consigo deficiências que podem comprometer o aprendizado.
Por essas e outras que o ensino de base - fundamental e médio precisam de urgente e eterna atenção. Com educação de base eficiente, o estudante conquista mais ferramentas para o acesso por mérito – onde quer que seja. Para ser um cidadão consciente e atuante (e isso é urgente,antes de mais nada!), para criar novos ofícios e formas de geração de emprego e renda e, se quiser, para ingressar no ensino superior. O sucesso tem muitos endereços!!!!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Navegante

A bordo, cosmopolita
múltiplo
Fusão de tantas culturas, credos,
etnias
e, ainda assim, marujo...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Afago

Não vou exorcizar demônios
Nem destilar veneno
Vou sorver o ar,
rarefeito e pleno

Multiplicar o que de bom há
Tragar o bom ar
Viajar...

E quando voltar,
Retomar
o afeto,
o afago

Tato
Faro
Largo

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Insônia

Existe entre aflitos, ansiosos e desvalidos
Comum entre regrados
Abundante entre loucos
Rara para poucos

Par do estresse
Filha do medo
Prima do trauma

Sua palma é a própria alma
E o corpo, para - raio
Reverso do consciente
Fruto da Agonia
Cria da frustração

És insone
Sonâmbula
Contramão

terça-feira, 5 de maio de 2009

Intransigência

Enquanto tanta coisa acontece
Me atenho aos fios do teu pensamento
Me prendo à angustia toda que vem de mim
Me lanço aos detalhes que vejo em ti

Enquanto tudo muda ao redor
Sigo impassível pela estrada
Como se não houvesse alternativa
Como se a via fosse a única

Como se o meu pensar fosse ímpar
Como se meu sentir fosse soberano
Como se a minha dor fosse a maior
Como se o arrependimento fosse só meu