terça-feira, 24 de junho de 2008

24 de Junho

Preciso conjugar morte, vida e vitória
para acompanhar as nuances desse dia.
Preciso de Paco de Lucia, de Bulerias...


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Afeto

Quero abraços e beijos roubados
Quero cochichar segredos
E quero ombros largos para dormir de conchinha no frio

Quero acordar devagarinho
Para espiar o sono de menino
Ronronar amabilidades em seu ouvido
E ( por que não?) lhe dizer coisas de arrepiar cada folículo

Quero sentir pele macia e relevos
Mas também quero tê-lo como
Um companheiro
Como quem tem a seu travesseiro

Quero poder vê-lo a qualquer tempo
Pelo luxo de dar e receber afeto
Sem rotular essa troca
Sem ser “namorada’, “amante”, “mulher”

Porque quero apenas
Ser bálsamo de felicidade
Porto seguro de lealdade
E edredom de abraço para me ninar

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ao tempo

Frio e chuva são inimigos nº1 dos fins de semana carioca. No Rio de Janeiro, abrir mão de qualquer programa porque as ruas estão molhadas e frias é cultural e os dias de inverno típico ditam o maior point da estação: a própria casa. Com temperaturas mais amenas, os únicos lugares que, de fato, ficam cheios são as videolocadoras. DVD´s e algumas fitas – ente sobreviventes e clássicos que ainda não estão disponíveis na mídia mais moderna – fazem a alegria do carioca acuado pelo frio e pela insegurança que assola a cidade. Assim, os últimos dias foram um festival de filmes, no aconchego do lar.
Muito Almodóvar e seus dramas, muitas mulheres, suas histórias e carrascos, pedófilos e tantos outros personagens habitaram minha casa, o destaque, no entanto, passou longe do brilhante espanhol. Meu oscar foi para o nada inédito mas, tocante e surpreendente “Adorável Julia”, de István Szabó. Aparentemente despretenciosa, a história é uma celebração da maturidade feminina. O exemplo de uma mulher que se refaz, mesmo quando o tempo mostra que o ser é perecível. Por isso, é comovente perceber o quanto a protagonista Annette Bening, que interpreta a atriz Julia Lambert, se entrega às angústias de ter vida pública, sente o peso de “representar” em tempo integral, enxerga em pouquíssimos a possibilidade de trocas mais sinceras e livres de interesses, se ressente do casamento que sustenta e encara – sem medo e sem amor – a aventura e a leveza da relação extra - conjugal. E, melhor ainda é ver o triunfo dessa mesma mulher, quando sublinha o valor sentimental e mais denso das relações que construiu ao longo da vida e enxerga o legado positivo do tempo (!). Se vê sábia, segura e talentosa e reconhece o poder dos elos indissolúveis de densidade e amor, que permeiam as relações afeto, amizade, matrimônio e tantas outras que costurou por toda a vida. Mas, acima de tudo, vê que a plenitude da felicidade depende, exclusivamente, do quanto conseguimos ousar para conquistá-la. Julia abandona a condição passiva – “sou o que o mundo fez de mim” e assume a responsabilidade pelo que é. Consciente do próprio poder e força entende, por fim, que pode se bastar, ser auto-suficiente, completa em sua solidão e feliz.